terça-feira, 4 de setembro de 2012

Lar, sombrio e escuro lar...



Aqui na velha rua da velha cidade, é noite e um vento misterioso balança as folhas da mangueira gigantesca que existe defronte a velha casa desde antes de eu nascer. Uma eletricidade estranha paira no ar tornando as sombras mais vívidas, as lembranças mais assustadoras e todo um passado já tão distante se revira na mente perturbada que saiu daqui um dia em busca de respostas que sempre estiveram muito claras mas os olhos ainda imaturos foram incapazes de ver. Os cães ladram e uivam o seu canto noturno e os noturnos errantes vagueiam bêbados pelas ruas tão antigas, bradando maldições, sorrindo sozinhos, loucos e livres, tornando tudo ainda mais vivo na lembrança das lendas de sereias no parnaíba, de homens que viravam lobo, de mulheres que eram possúidas por espíritos maus e das que tinham parte com artes diabólicas e se encontravam na serra vermelha pro seu festim infernal. É certo que sob a luz do luar pálido, que não consegue tornar o céu menos negro e as estrelas menos vívidas, cambaleia a Senhora escura, casa em casa, a ver se os viventes dormem sono traquilo. Ela que toma pela mão, e dança e rodopia ao sabor de ultimos suspiros, assombra a vida dos que nunca esperam pelo fim. Será que o velho fantasma que cavalga um cavalo demoníaco vai cruzar os ares esta noite? Será que as Damas de vermelho que se escondem nas copas das arvóres frondosas vão atormentar alguns rapazes vadios que passeiam a estas horas? Será que o santo Peregrino, brutalmente assassinado e cujo corpo jamais fora encontrado vai passear pelas vielas da cidade que nunca o esqueceu? Certamente os bruxedos estão a ser feitos no secular cemitério e alguns feiticeiros devem estar cavocando as benditas tumbas agora... Na certeza de que os silentes assistem a tudo, vou ao sono esperançoso por um contato mais profundo, de mergulhar nos mistérios dessa terra, de aprender a sua história, e encontrar e me sentir confortável com o legado do meu sangue. Estou em casa, estou realmente em casa...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Sentir...

Eu gosto do que me toma violentamente, do que me rasga o espírito impiedosamente, do que não para nem recua aos gritos de dor e desespero, eu gosto de estranhar-me por gostar do que me fere. Gosto do barulho dos ossos estalando sob o peso da carne-vida, eu me sinto bem ouvindo sussuros e respiros dos que já se foram, eu caibo exatamente na medida da palma da mão do condenado, por amar o que de fato é duradouro, e fazer do caminhar um voltar pra pura alma.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Seguindo...



Chega um momento na vida em que é preciso crescer, evoluir. Por muitas vezes somos egoístas demais pra perceber esse momento e preferimos continuar adotando as mesmas posturas diante de fatos já tão cotidianos. A maioria das vezes que você se apega tão fortemente ao marasmo da vida, é exatamente isso que recebe em troca. Porque você só dá aquilo que tem, e recebe em justa paga exatamente aquilo que deu, nem mais e nem menos. Por tempos e tempos eu dei demais de mim ao mundo e aos meus, mas o meu dar nem sempre foi afável e quase nunca foi bem visto, por que sempre foi sincero e a sinceridade é um monstro feio que fere as pessoas em verdade e dor. A minha paga tem sido justa, afastando orgulhos feridos e corações magoados da minha vida, o que não foi de todo ruim, não fosse tanta dor que senti ao perder alguns que eu sempre acreditei pedaços de mim, cuja amizade eterna se desfez tão rapidamente que eu nem tive tempo de calcular o quão rápido é o eterno. Mas: “não é porque a flor morreu no galho que ela mentia pra você enquanto florescia”. Lembro de ter visto essa frase quando criança, passou num seriado de TV que eu nem lembro mais, portanto nem sei quem disse tão belas palavras, que guardei, talvez por sentir que um dia, essa frase faria completo sentido pra mim. Muitas das vivências foram boas demais enquanto duraram, mas hoje agradeço aos Deuses por ter tido um fim, é que não consigo viver a vida toda apegado à mesma coisa, nem repetindo os mesmos erros, talvez até faça isso por um tempo, mas corro sempre desesperado rumo à mudança que é sempre caminho mais acertado pra um espírito tão inconformado como o meu. Não quero com isso parecer perfeitamente superior aos que foram caindo pelo caminho, não, eu sequer sei se os meus pensamentos estão certos, mas a questão que me corrói as entranhas é: Um amigo não tinha que ser realmente sincero com você? Ou ainda: Não tínhamos liberdade suficiente pra usar de sinceridade para com o outro?

Não sei mais de que se faz uma amizade, ou na verdade eu não saiba mais como se conserva um amigo, ou talvez seja só o tempo nublado que ameaça chover e me deixa com esse frio na espinha... Eu que sempre gostei de tempestades. Não estou triste, sequer minimamente magoado, apenas caminhando e deixando os pesos desnecessários para trás pra eu ir seguindo mais confortavelmente, pouco a pouco, passo a passo até chegar aonde os passos já não marcarão mais a areia atrás de mim... Sim, estarei voando.